Pernambuco tem 83% de área com extrema seca

O cenário é descrito como difícil pelos especialistas e sentido na pele pela população. Pernambuco tem 83% do território com seca extrema, afirma o Monitor Mensal de Secas do Nordeste, divulgado pela Agência Pernambucana de Águas e Clima (Apac). A pior estiagem dos últimos 50 anos levou 66% dos reservatórios de Pernambuco ao colapso, impôs um racionamento que em algumas cidades chega a apenas um dia por mês de águas na torneiras e modificou o cronograma de obras hídricas. 

A pior situação é no Agreste, onde 69 municípios estão em situação de emergência, segundo decreto publicado ontem no Diário Oficial. Ao todo, são 125 cidades em emergência. O documento divulgado ontem atualizou a lista e retirou Correntes, pois segundo a Casa Militar a cidade “está em processo de reconhecimento e em análise”. Desde 2012, chove abaixo da média no estado. No primeiro semestre deste ano, choveu 34% abaixo da média na região Agreste. A consequência foi a intensificação de um rodízio nos municípios da região como não ocorria desde antes da construção do reservatório de Jucazinho, no fim da década de 1990. A barragem, cuja capacidade é 5,5 vezes a de Pirapama, hoje está com apenas 0,3% da capacidade. A previsão é de que, até outubro, ela fique completamente sem volume.

“No Sertão há cidades que são abastecidas por adutoras que tiram água do Rio São Francisco, mas no Agreste a situação é mais complicada. Quase toda as barragens estão em colapso”, afirmou o gerente de meteorologia e mudanças climáticas da Apac, Patrice Oliveira. “No Agreste não tem grandes barragens, água de subsolo e grandes rios”, explica o presidente da Compesa, Roberto Tavares.

Hoje, são 54 reservatórios em colapso em Pernambuco. Jucazinho já poderia ter secado, estimam os especialistas, desde o fim de 2014. Desde o ano anterior, em função da seca, foram feitas realocações de municípios como Caruaru, Gravatá e Bezerros para garantir o funcionamento do reservatório.

As ações emergenciais ao longo desses anos incluíram o carro-pipa como única fonte de água em 14 cidades e reforço de abastecimento em outras 35. Isso gera um custo mensal à Companhia Pernambucana de Saneamento (Compesa) de R$ 1,7 milhão. Os sistemas meteorológicos que proporcionam chuvas já deixaram de agir em Pernambuco e, partir deste mês, não há mais previsões de precipitações significativas capazes de reverter ou melhorar o quadro. Com isso, a estimativa da Compesa é de que, até o fim deste ano, sejam necessários 400 caminhões-pipa, em contraposição aos 250 usados hoje, para garantir o abastecimento. Isso gerará um custo mensal de R$ 2,8 milhões.

Além das ações emergenciais, foram iniciadas obras estruturantes para conectar água do Sertão até a Zona da Mata. A adutora do Agreste, cuja entrega atrasou em decorrência da redução nos repasses federais nos últimos dois anos, teve a obra retomada na semana passada. Com ela, haverá um sistema integrado de 1,3 mil km no Agreste. A obra do Ramal do Agreste, que ligará o eixo-leste da transposição do São Francisco à adutora, tem previsão de início ainda neste ano, mas o prazo de conclusão é de três anos. Enquanto isso, será antecipada a conexão da adutora e com a transposição, a partir de um conjunto de outras intervenções locais, como alternativa ao funcionamento da adutora.

A ideia é trazer água da Mata Sul e da Mata Norte para o Agreste. Da Mata Sul, está em andamento a obra da adutora do Pirangi, cuja previsão de entrega daqui a seis meses. Da Mata Norte, a obra da adutora do Siriji terá o projeto pronto nos próximos 30 dias. Ela se integrará ao sistema Palmeirinha. E nele, está em execução uma obra para fazer a integração ao sistema Jucazinho. Em Tupanatinga, também estão sendo perfurados poços para fazer a integração. Outra adutora a fazer parte da ligação, a do Moxotó, ficará pronta em até um ano.

As obras foram pensadas prevendo o período cíclico de secas e também o crescimento da população pelos próximos 30 anos. “Teremos flexibilidade operacional para manejar a água com mais facilidade diante de secas que ainda virão e, segundo as previsões, poderão ser mais intensas. É o maior volume de obras estruturantes que a gente já viu”, garantiu Roberto Tavares.

A aceleração da entrega dessas estruturas depende, porém, de verba repassadas pelo governo federal. Neste ano, dos R$ 800 milhões que poderiam ser gastos pela Compesa, será possível viabilizar apenas a metade. “Existe uma estratégia montada para o Agreste, que depende em parte dos repasses do Ministério da Integração Nacional para a adutora, mas estamos articulando outras fontes”, concluiu o presidente da Compesa. (Via: DP)

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