Impeachment: em 1992 Collor ia soltar os cachorros

Collor prestes a assinar notificação de que responderia, fora do cargo, por crime de responsabilidade

Rodrigo Vizeu - Folha de S.Paulo

O dia 29 de dezembro de 1992 começou com a expectativa do julgamento final do presidente Fernando Collor no Senado.

Ele até conseguira atrasar o início da etapa derradeira em uma semana —a tática era adiar a decisão até 1993, contando com erros do governo interino de Itamar Franco para voltar.

Mas o plano esbarrou em decisão do Supremo Tribunal Federal que definiu que Collor enfim começaria a ser julgado na última terça-feira do ano.

O país acordava também naquele dia querendo saber se o próprio Collor iria ao julgamento, que iria até a madrugada do dia 31, durando menos que o de Dilma Rousseff.

Até ali, dera inúmeros sinais de que se defenderia no Senado. Queria discursar por 30 minutos, sem ser apartado pelos senadores. Cogitou falar de improviso.

O aliado Ney Maranhão (PRN-PE) anunciou: "Ele vai vir em pessoa e soltar os cachorros".

Seus advogados defendiam a ida, mas havia também os que preferiam que ele faltasse, acusando cerceamento de defesa para justificar novo adiamento.

Na véspera, o porta-voz Etevaldo Dias dizia que Collor "tendia a comparecer" e repetia o que ele prometia há meses: "Jamais renunciará".

Em muitas ocasiões, nem deu abertura a aliados que defendiam a entrega do cargo exporem argumentos.

No dia D, minutos após o início da sessão, para a surpresa dos aliados, Collor deu sua última cartada para tentar se livrar ao menos da perda de direitos políticos.

Não foi ao Senado, descumpriu a promessa e renunciou à presidência da República. 

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